Por me inspirar, e ser minha matriz criativa e foco na fotografia que realizo, busco compreender e pesquisar sobre natureza em suas mais amplas possibilidades: origem, história, conceitos, arte...
Apesar da sua relevância e importância, o tema natureza, tanto na pintura e tempos depois na fotografia, sempre foi vista como coadjuvante, ou seja, em uma hierarquia de representação era classificada como uma das mais baixas e não como protagonista da cena/obra.
Até os gregos, apesar de seu amor à natureza, tinham pintado paisagens somente como fundo para suas cenas bucólicas. Na idade média, uma pintura que não ilustrasse claramente um tema, era inconcebível. (Gombrich, 2012, p.355).
Desta forma, podemos dizer que ela passou a ser mais notada e começou a subir no grau de hierarquia que falamos, a paisagem/natureza como gênero próprio, a partir do séc. XVI.
Nesse sentido de exaltar o protagonismo da natureza podemos considerar o nome de Giovanni Bellini (1430-1516) como um dos pioneiros, no final do século XV, especificamente em Veneza, onde começou um interesse maior dos artistas em representar a natureza.
A predileção de Giovanni Bellini era a ambientação de cenas bíblicas, onde a paisagem tinha grande destaque e não passava mais despercebida. Na obra Agonia no Horto (1465), por exemplo, a paisagem estende-se ao fundo, tracejada por caminhos tortuosos, pelo curso d’água e pela colina à esquerda, que remete para aos montes com as suas pedreiras.
Agonia no Horto (1465)
Imensidão, subjetivamente reforça e amplifica a sensação de solidão de Cristo na cena. O ponto de vista central para ser o local a captar o olhar primeiramente, para depois passear pelo cenário da obra.
Depois, os troncos cruzados em primeiro plano prenuncia a atenção pelos menores elementos, cotidianos, familiares ao observador. Tudo isso junto a sua preocupação com a luz e as cores...
Mais uma obra de Giovanni, para reforçar esta ideia, citamos “São Jerônino no Deserto” (1480-1485). Observamos a harmonia entre humano e ambiente, a questão do claro e escuro, a verticalização e suas camadas, o distanciamento da cidade, as escrituras. Ou seja, a natureza como lugar de refúgio para momento de paz, reencontro consigo mesmo...
São Jerônino no Deserto (1480-1485)
Assim a temática paisagem/natureza seguiu ganhando espaço – e segue até hoje buscando este pleno reconhecimento -, com a chamada escola de Danúbio (1500-1550), que tinha como diretriz a beleza da natureza por ela mesma e como fonte de inspiração as paisagens na região do rio Danúbio. Esse momento foi chefiado por Albrecht Altdorfer, logo também podemos lhe incluir entre os pioneiros e fundadores do gênero paisagem.
Entre as preferência de Albrecht estavam as florestas impenetráveis da Alemanha e da Áustria. Neste caso, a sua obra “São Jorge e o Dragão” (1510) fica bem nítida esse tipo de cenário que lhe encantava.
São Jorge e o Dragão (1510)
Além disso Albrecht Altdorfer gostava bastante de explorar a luminosidade natural de acordo com o seu tempo. Luz natural essa e em seus variados momentos (dia, tarde, noite, estações do ano...) que foi utilizada mais tarde em outros movimentos artísticos.
Arte e natureza nunca são tão frias nem tão polidas quanto um espelho. A natureza refletida na arte reproduz sempre o próprio espírito do artista, suas predileções, seus prazeres e, portanto, seu estado de ânimo. (Gombrich, 2012, p.430).
Mas apenas mais tarde, precisamente entre 1820-1850, que a natureza ganhou realmente um movimento artístico que lhe exaltasse plenamente, o Romantismo, e surgiu como espécie de reação ao Neoclassicismo do século XVIII. Os artistas românticos desejavam se “desligar” das convenções acadêmicas em favor da livre expressão da personalidade do artista.
Observando algumas das suas características entendemos melhor os ideais e objetivos do movimento Romantismo.
Exaltação da natureza; Cultivar a emoção, fantasia, o sonho...
Afeição pelo período da Idade Média, porque foi o tempo de formação das nações;
Liberdade individual e do povo, ou seja, defesa dos ideais nacionalistas;
A ideia que Deus não é um ser pessoal distinto do mundo, as Deus e o mundo seriam uma única substância;
Entendimento de mundo centrado nos sentimentos do indivíduo;
Enaltecimento das tradições populares;
Visão subjetiva e criativa onde o artista idealiza temas;
Olhando os nomes dos principais nomes deste período podemos compreender a sua potência e importância:
Pintores como Caspar David Friedrich (1774-1840), Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828), Joseph Mallord William Turner (1775-1851), John Constable (1776-1837), Eugène Delacroix (1798-1863) e o poeta William Blake (1757-1827).
Fotografia
Na fotografia, por conta das suas condições e restrições técnicas ela começou a ser explorada em meados do final do século XVIII por fotógrafos como Charles Fontayne e William S. Porter que já executavam daguerreótipos panorâmicos de orlas marítimas com níveis extremamente altos de informação visual.
Foto: Charles Fontayne
Lembrando que antes, os primeiros experimentos do francês Joseph Nicéphore Niépce, começaram em 1826, com a conhecida foto pela janela e levou cerca de oito horas para ser feita. E que o método Daguerreótipo – já mais avançado -, é de 1838, e em sua primeira foto levou – captou um engraxate na Boulevard du Temple em Paris - cerca de dez minutos para ser realizada.
Foto de Joseph Nicéphore, Vista da janela em Le Gras (1826)
Daguerreótipo, Boulevard du Temple de 1838
Na chegada do século XX, a arte da fotografia de paisagem foi formada grande parte por fotógrafos americanos que tinham uma paisagem vasta e variada para brincar. Sua influência também pode ter sido devido à crescente influência da produção cultural americana e aos mitos de fronteira do destino manifesto.
Podemos considerar que o lendário Ansel Adams sem dúvida o mais famoso de todos os fotógrafos de paisagens, um ambientalista dedicado cujo amor pelo mundo natural visava encorajar as pessoas a respeitar e cuidar de seu planeta. Suas imagens em preto e branco de rios e cânions estabeleceram os precedentes para fotógrafos de paisagens depois disso.
Foto de Ansel Adams, Aspens Northern New Mexico (1958)