Bem provavelmente, seja você fotógrafo ou entusiasta da fotografia, que já tenha ouvido falar que fulano faz fotografia fine art. Em vez disso não seria mais apropriado falar em fotografia autoral? Afinal, entendo fine art como uma série de processos e etapas que tem como objetivo final a excelência e alta qualidade na impressão do arquivo fotográfico.
No entanto, para abordar este assunto tão controverso às vezes, principalmente pela falta de informação/conhecimento – e tudo bem, pois mais que se fale no tema hoje em dia se trata de uma questão nova na fotografia – e sempre é saudável abordarmos e compartilharmos informações para sempre seguirmos aprendendo. Por aqui apenas divido com vocês o meu ponto de vista e necessariamente você não tem obrigação de concordar.
A fotografia autoral é mais subjetiva, autoral, feita assim de maneira proposital e idealizada pelo fotógrafo para expressar sua ideia, entendimento, pensamento, denúncia, reflexão sobre determinado assunto/tema. Logo, característica peculiar se torna a identidade particular do fotógrafo.
E se tratando de algo individual – cada um tem seu estilo, percepção...-, neste ponto é válido ressaltar a importância de construir um vasto repertório visual. Já que fotografar é escrever com a luz, na tradução mais simples e direta, quanto mais elementos você entender e dominar da “gramática”, melhor você vai escrever seus textos, ops, digo, fotografar e consolidar sua autoria.
Tem uma frase do pintor Pablo Picasso que gosto bastante e sintetiza bem sobre esta questão do olhar autoral.
“Se eu pintar um cavalo selvagem, você pode não ver o cavalo… mas certamente você verá a selvageria!”
Dentro da fotografia existem diversas áreas possíveis, sejam elas jornalísticas, campanhas publicitárias, de eventos, produtos, moda, entre tantas outras. E você pode me perguntar, mas mesmo dentro destas possíveis áreas o fotógrafo não tem sua a própria assinatura/identidade. Depende, por que, por exemplo, você terá que seguir um briefing ou atender a uma determinada linguagem do contratante e caso se encaixe nestas questões, tudo bem.
Digamos que o fotógrafo em seus trabalhos autorais gosta de se expressar usando múltiplas exposições, ou cores saturadas demais, ou baixa velocidade... Ok, esses são alguns dos caminhos. Mas para uma fotografia jornalística isso não seria possível. Seja pela questão editorial de cada veículo de imprensa e/ou também pelo uso de certas técnicas em relação as condições que o fotojornalismo exige. Digo, a notícia não espera e você tem que registrar o fato, o personagem, o problema, da melhor forma mesmo sem a condição ideal na maior parte do tempo.
Isso tudo, reforçando, apenas para ressaltar como compreendo a diferença de fotografia autoral e fine art. Mas Dennis, o que é fine art então?
Como citado anteriormente é um processo que passa por uma série de etapas visando a máxima qualidade e não apenas simplesmente a impressão de mais um arquivo.
Trata-se de um protocolo onde a preocupação é desde o momento da captura – equipamentos, configurações corretas para o que deseja, perfil de cor, calibragem do monitor...-, passando por rígidos critérios de impressão em materiais especiais até na montagem das obras fotográficas.
As impressões são realizadas com tintas de pigmentos minerais sobre papéis de fibra de algodão e seguem o padrão utilizado, por exemplo, das obras expostas nos museus.
Aqui vale abrir uma parênteses. Não tem obra que dure longos anos, mesmo se a obra for impressa na melhor condição possível, se ela ficar exposta em lugar não ideal, ou seja, com alta umidade, exposta ao sol, próxima de produtos químicos, receber toques constantes em lugar de alta circulação. Não à toa os museus e colecionadores possuem uma série de protocolos de cuidados periódicos com suas obras.
A decisão de escolha sobre o tipo de papel a ser utilizado é mais uma das fundamentais etapas dentro do processo. Eles influenciam diretamente na qualidade do resultado final, além de garantir uma longa durabilidade.
Aproveito para compartilhar com vocês neste post duas fotografias de minha autoria e ambas sobre o mesmo tema: a natureza. Perceba como fica claro diferenciar uma da outra.
Ou seja, apenas dando uma “pincelada” no assunto, destaco que o fine art está relacionado com os processos para uma ótima impressão.
“Toda fotografia pode ser considerada sob o ângulo do documento ou sob o ângulo da obra de arte. Não se trata de duas espécies de foto. É o olhar de quem considera que decide” (Jean-Claude Lemangy, professor e historiados de arte).
Sim, o assunto vai longe... Além de um clique.