Maravilha rever o filme Central do Brasil, de 1998. Não à toa conquistou vários prêmios nacionais e internacionais, e podemos enumerar várias questões exaltando a trama. Mas vou reforçar a fotografia, que teve direção de Walter Carvalho, que maravilha de luz. E mais do que planejar, é saber lidar com os imprevistos.
Por exemplo, na cena da romaria em Bom Jesus do Norte, Walter não tinha como usar iluminação artificial por questões técnicas, como mesmo já falou em algumas entrevistas, e assim encontrou a solução de gravar a cena utilizando apenas a iluminação das velas. O resultado ficou genial.
O rigor da direção do filme nas composições também me chama atenção. A seguir algumas cenas que separei para ilustrar melhor. Falando em imagens/significados, o triângulo invertido é uma imagem que passa incerteza e instabilidade. Não por acaso, em um dos quadros, a personagem Dora aparece “emoldurada” por um triangulo invertido, pois se encontrava em momento de indecisão e que rumo a seguir em relação ao menino Josué.
Na cena do trem, as linhas inclinadas das janelas passam dinâmica e reforçam ainda mais a sensação de movimento com o Josué correndo ao lado de fora.
Já em outra cena, o triângulo “aparece” novamente, mas de forma normal, e da para notar o equilíbrio que traz para a composição, reforçando que correu tudo bem em mais um dia de trabalho da personagem na estação e sua ponta direcionando para um momento de fé.
Nem certo e nem errado, apenas um ponto de vista particular e uma forma também de estudar fotografia. Enxergar as entrelinhas também faz parte do clique.